Um dia, quando ainda era criança, ganhei um livro de poesias que tinha o soneto de fidelidade, do Vinicius de Moraes. Nesse dia, o li e não conseguia interpretar a coerência do ‘dele se encante mais meu pensamento’. Não fazia sentido pensar dias à fio em uma única pessoa.
Quando se tem 10 anos, o que mais faz sentido é viver a vida, sem a preocupação com o dia de amanhã.
Há uns dias você surgiu dessa forma, encantando o meu pensamento. E faria sentido de tudo, ao meu amor, eu ser atenta. Ter zelo por todo esse encanto… O encanto dos olhos, o encanto da pele. Assim, a recordação faria parte constante da memória. Viver em cada pequeno momento, dentro de todas as limitações que nos assombravam. E cantar, cantarolar… Desde que te vi, passei a cantar mais, sabia?
Naquela tarde que ficamos deitados e eu cantei no seu ouvido. A pele arrepiou. Que dia mágico tivemos! E rir o meu riso e derramar o meu pranto, ao seu pesar ou seu contentamento… Nunca imaginei que seria imortal, posto que é chama, mas que se você fizesse parte do meu infinito particular, sem a mensuração de dias, meses e anos. Se eu simplesmente soubesse que você está lá… Me faria tão feliz! Nunca precisei de muito, sem mendigar amor, sabe? Mas você apareceu de forma tão arrebatadora, que é difícil pensar em outra forma que não seja te amar. Se esse infinito se encerra aqui, eu não sei. Mas de coração? Entre todos os pequenos dias, pequenas horas e pequenos infinitos do mundo, o seu mundo, o meu mundo… Eu criaria um universo inteiro só pra caber eu e você, pra viver somente nós dois, como vivemos nas tardes e noites que passamos juntos.
E a partir de então… Não faz mais sentido tentar ficar com outra pessoa que não seja você!
Só não sabia que tudo seria perecível, ao ponto de cogitar que o problema, mais uma vez, foi não ter feito o que eu deveria ter feito. Por não ter estado onde gostaria de estar. E no final de tudo… Quem sabe a solidão, fim de quem ama, eu possa lhe dizer do amor (que tive). Fica tudo apenas na memória!
…dele se encante mais meu pensamento!